“[...] deixamos de ser homens de meditação, homens cuja vida interior se alimenta de escritos. Os choques sensoriais conduzem-nos e dominam-nos; a vida moderna penetra-nos pelos sentidos, pelos olhos e pelos ouvidos. O automobilista vai demasiado depressa para poder ler os painéis publicitários; apenas obedece às luzes verdes e vermelhas. O peão, empurrado e apressado, não tem senão tempo para entrever o aspecto de uma vitrina e ser influenciado por um cartaz de publicidade. O ocioso, que, instalado numa poltrona, pensa descansar, gira o botão que introduzirá, no silêncio do seu lar, a veemência sonora da telefonia ou, na penumbra, os fantasmas trepidantes da televisão - a menos que tenha ido procurar numa sala escura os espasmos visuais e sonoros do cinema. Um prurido auditivo e óptico obceca e submerge os nossos contemporâneos, provocando o triunfo das imagens”1 ganhando a imagem um peso sucessivamente crescente.
As imagens cercam um homem na missão publicitária de chamar a atenção primeiro, de orientá-la, em seguida, através de meios de comunicação tão distintos como a publicidade, a televisão, o cinema, a pintura, entre outros e assim despertando as consciências e exigindo a acuidade das atenções para a arte ser penetrada, apreciada e julgada. O seu conteúdo só é então entendido pelo espectador se conseguir forçar a sua sensibilidade até atingir um determinado objectivo.
A necessidade de fruição de uma “obra de arte” é uma espécie de hipnotismo disfarçado, em que a imagem é encarada como um instrumento de informação, imprimindo-se no nosso inconsciente como um poder sugestivo da representação da realidade
Assistimos dia-a-dia ao bombardeamento constante de imagens de TV, fotografia de jornal, propaganda, etc, que nos permitem o acesso a uma desmesurada quantidade de informação, o que na maior parte das vezes acaba por interferir no modo como vemos as coisas. Deste modo, assiste-se à construção de uma realidade simulada e com um interesse exacerbado do estímulo visual.
Projecto Empty Vessels MEMÓRIA DESCRITIVA
A nossa sociedade é produtora e consumidora activa de imagens. Já não saberíamos viver sem as mesmas, estas manipulam e exercem uma espectacular força sobre aquilo a que nós podemos chamar de «a nossa representação do mundo». Já não concebemos o mundo sem imagens e elas substituem, por vezes, o nosso contacto com o real, são ilusões de que vivemos essa mesma realidade.
E é precisamente através de imagens metafóricas que a ideia resulta, que a mensagem subjectiva, se torna passível de uma análise mais pormenorizada do que o simples olhar directo e o compreender instantâneo da mensagem, que supostamente devia estar subjacente de uma imagem.
Neste sentido, Empty Vessels surge como uma reflexão sobre o poder da imagem na forma de comunicar, apresentando em dois momentos a dualidade entre a mensagem escrita e a mensagem visual.
Num primeiro momento, a mensagem escrita surge como elemento primordial, despoletando para um pensamento crítico em torno do seu verdadeiro sentido, livre de uma “sedução imagética”. Numa segunda leitura, o conteúdo é nos apresentado de uma nova forma, desvendando a imagem.
O objecto constrói-se a partir da selecção de imagens de campanhas de publicidade e de excertos de alguns críticos e teóricos.