PROJETO


“O Muro Habitado – A Cerca de Santa Marta Como Espaço de Transição”

A cidade

As cidades podem muito bem ser tidas como um palimpsesto onde podemos encontrar vestígios que ao longo dos tempos foram sendo gravados. Na colina de Sant’Ana, é nítida esta espessura do tempo que foi sendo sedimentada, em que as suas Cercas conventuais e palacianas constituíram-se como autênticos enclaves urbanos que ainda hoje imprimem um forte cunho no tecido citadino da Colina.

No caso do Hospital de Santa Marta, situado a Poente da Colina de Sant´Ana, representa um lugar construído desde o século XVI, que se tem ajustado às mentalidades de cada época vivenciada. Actualmente, estes territórios monásticos desempenham usos diferentes dos que foram inicialmente pensados, pois os conventos da Colin de Sant´Ana passaram a servir como unidades hospitalares civis.

Arquitectura Conventual

Desde as primárias construções do Lugar de Santa Marta, a sua arquitecturade carácter religioso tem agregado em si uma complexa carga simbólica, que tem vindo a sustentar um carácter de isolamento e reclusão com a envolvente. Se no passado a arquitectura monástica trespassava a retórica de clausura, no presente, o actual enclave urbano imprime uma forte marca no tecido da cidade de Lisboa e que pode traduzir-se numa excepcional oportunidade para novas formas de desenvolvimento, indo ao encontro das necessidades específicas da cidade contemporânea.

Limite

No contexto da colina de Sant`Ana, a Cerca de Santa Marta é a única estrutura do tipo que mantém o desenho do limite da Cerca monástica original. Os seus muros transpassam a barreira do simbólico e de simples elemento maciço que separa e protege o recinto tendencialmente fechado. O espaço interior da Cerca, que outrora era considerado “mundo divino”, encontra-se actualmente descaracterizado e pouco articulado, consequência das sucessivas intervenções para adaptar-se às exigências hospitalares.

Estratégia

Perante o actual contexto do programa da Câmara Municipal de Lisboa, no qual se prevê a desactivação desta unidade hospitalar, pretende-se assim revalorizar o muro como perímetro que circunscreve e encerra em si um lugar complexo com de pretensão autossustentável - remetendo-nos para a autonomia e organização alcançadas pelas Irmãs Clarissas que governavam o antigo Convento de Santa Marta – como estratégia primeira para a sua nova vocação enquanto lugar.

Muro como Arquitectura - Corpo Perimetral

A estratégia de revalorizar os limites da Cerca de Santa Marta constitui um projecto que consolida o espaço fronteira - por intermédio da sua densificação arquitectónica e funcional - que viabiliza a libertação do espaço. Isto traduz-se no programa de jardim público que possibilita tanto a melhoria da imagem urbana da Colina deSant’Ana, como permite o acesso e permeabilidade pública, reforçando o carácter social do projecto proposto.

Jardim

A proposta do programa do jardim público vem compor a necessidade do actual contexto urbano da Colina de Sant’Ana e vincula-se à memória do ambiente de “hortus conclusus”, em que predomina a presença de elementos naturais em convívio com dispositivos arquitectónicos, onde o homem possa refugiar-se da realidade urbana que o cerca.

Valores Sociais

O desenho periférico do novo elemento arquitectónico contrasta visivelmente com o antigo edifício do Mosteiro, pela discrição da sua forma - tratamento arquitectónico descaracterizado à semelhança da planura da fachada dos muros das cercas - evidencia o protagonismo e o valor do património construído do lugar. As intervenções arquitectónicas e o programa do projecto operam sobre as raízes do lugar com o intuito de valorizar e preservar o seu valor patrimonial, sob ponto de vista cultural, artístico e social, tudo isto para que a sua vivência e a sua repensada função sejam de grande utilidade para o futuro do Lugar.