JURÍ

Paulo Arraiano

Na fluidez orgânica de linhas, personagens, formas, cores e composições que formam o universo visual de Paulo Arraiano, reside uma dualidade que funde o natural e o artificial, natureza e urbanidade, emergência e criação. Na intersecção entre estes dois mundos aparentemente opostos e exclusivos, conseguiu estabelecer um novo equilíbrio que emerge da energia primitiva que flui entre um e o outro e se encontra na raiz da linguagem visual que criou e que expressa de forma tão intensa. Neste universo, o abrangente nom de guerre Yup é uma exclamação de positividade, uma exortação à vida de forma intensa, ao movimento primordial que é canalizado através dessas mesmas linhas, desses mesmos meridianos que expressam o sujeito do desenho na sua forma mais pura e essencial.

Tendo crescido como filho único, numa dieta de animação japonesa e americana, BD belga e blocos de Lego, relembra a importância que o seu pai teve, enquanto arquitecto, em transmitir a sua paixão pelo desenho, assim como a importância da sua mãe, enquanto jornalista e escritora, pelo seu amor pelos livros e a palavra escrita. Mais tarde, durante os anos estouvados e angustiados da sua adolescência, travou conhecimento com a prática de skate e o interesse pela cultura gráfica e visual derivada da rebeldia, música alta e a agressividade do meio urbano. E, contudo, mesmo então o seu outro lado viria a balançar esta tendência com a fluidez e harmonia do oceano, com uma necessidade primária pela natureza, pelo surf e o amor pelas boas vibrações e a irie soul da música jamaicana e outros ritmos naturais e acústicos. A música, companheira de longa data, veio a tornar-se uma porta de entrada para o mundo da composição, da cor e do design. E o Design veio a tornar-se uma relação de amor-ódio, desenvolvida e seguida profissionalmente até ter entendido que o caminho estrutural que oferecia já não era significativo, já não oferecia as respostas e a harmonia que almejava.

Paulo Arraiano tem-se desdobrado amplamente por vários suportes e actividades, do design editorial à ilustração comercial, do design de roupa ao design de toys, da pintura de paredes à serigrafia, de intervenções na rua a exposições em galerias, do type design ao ensino. Comum a todos é a sempre presente natureza do desenho que forma a base fundamental de todas as suas actividades. O desenho enquanto arreio daquele fluxo de energia primitiva que o permite expressar, canalizar e libertar as suas necessidades interiores de forma a equilibrar questões internas e externas, usado como auto-terapia na procura harmónica. O desenho enquanto tudo, da dança ao surf, da organização de exposições à pura expressão visual; corpo em deslocação, movimento, energia, fluindo através de linhas, alcançando e estabelecendo comunicação com pessoas, reunido-as e gerando mais energia, um maior fluxo.

As suas inseguranças assumidas têm-no impelido implacavelmente em explorar, experimentar e levantar questões, de modo a seguir o seu percurso de criação até ao limite. Quer seja de forma digital ou analógica, impresso ou desenhado à mão, Yup é na sua essência uma infindável procura, uma imparável metamorfose de estilos e uma interminável busca pelo equilíbrio, plena de amor e alma genuínos. Uma procura pelas raízes, pelo equilíbrio orgânico e o movimento energético que molda, dá forma e sustenta toda a vida nesta complexa rede de interacções e relações simbióticas da qual todos fazemos parte. Uma procura por um novo sistema de escrita, uma nova linguagem para ligar o natural e o artificial, natureza e urbanidade. Uma linguagem que tem vindo a tornar-se cada vez mais abstracta, cada vez mais plena de texturas, cada vez mais próxima daquilo que reside na raiz de todas as coisas.