PROJETO


Conceptualizar na paisagem

ENQUADRAMENTO GERAL: Um centro interpretativo é um edifício vocacionado para uma perspetiva didático-pedagógica que pretende, acima de tudo, dar a conhecer “in loco” o espaço, tema ou conteúdo no qual está inserido. Através de um conjunto de critérios e adequação ao lugar, bem como com um programa específico que apele à “interiorização”, divulgação e desenvolvimento do património natural em questão, pretende-se que sejam edifícios com características muito próprias e vinculados ao tema que procuram divulgar. Deste modo, a inserção no lugar e o conceito que transportam devem contar uma história única.

ENQUADRAMENTO ESPECÍFICO: A Caldeira Velha, na ilha de São Miguel, foi classificada como Monumento Natural Regional, com os seguintes objetivos: “ (…) o estudo científico e a divulgação, numa perspetiva de educação ambiental, da área protegida; a valorização e preservação do espaço com a criação de infraestruturas que facilitem a sua exploração de uma forma ordenada e responsável, impedindo a destruição do património natural ali existente; o condicionamento das atividades realizadas na área protegida e respetiva envolvente.” A intervenção em causa privilegia a zona em questão (detentora de características únicas), ao mesmo tempo que qualifica o potencial atrativo de visitantes. Assim se conta uma história. Assim se “escreve” um projeto.

ENQUADRAMENTO ARQUITECTÓNICO: Foi na tentativa de articular todos estes elementos supra mencionados que este projeto nasceu. Tende a reconhecer os valores naturais e paisagísticos da área protegida em causa, ao mesmo tempo que procura dar continuidade à requalificação de toda a envolvente próxima à Caldeira Velha, quer em temos de volumetria, quer em termos de materiais. Foi pensado de forma a articular as questões funcionais dos dias de hoje, oferecendo condições aos visitantes (instalações sanitárias e vestiários) e propondo um misto de cultura e lazer (sala de exposição, cafetaria e zona de vendas). A dinamização destes espaços passa exatamente pela integração dos mesmos num programa mais complexo de desenvolvimento sustentado, direcionado em duas vertentes: cultural e natural.

Convertendo estas especificidades em área construída, o resultado é um edifício inserido no lugar, com materiais que procuram uma inserção na paisagem (nomeadamente o aço corten e a madeira) e com um formalismo que apela ao visitante que chega. Um misto de intervenção natural e humanizada que pretende utilizar energias renováveis e materiais amigos do ambiente. Concentrado num espaço envolvido por um ambiente de paisagem natural, o edifício insere-se no terreno que lhe é conferido, funcionando como um “diamante” que se adapta à vegetação e pedras existentes, conferindo-lhe uma imagem orgânica, mas coerente com o lugar. Conceptualmente é um espaço de variados contrastes: entre o claro e o escuro, o natural e o construído, o opaco e o transparente,…

Estruturalmente optou-se por uma composição mista: na parte sobrelevada do edifício, optou-se por uma malha metálica de perfis HEB 180, assente sobre pilares de betão; no restante será feita uma estrutura de laje e muros de contenção em betão. No entanto, e ao nível de paredes e coberturas, optou-se por uma conjunção de elementos que sirva ambos os interesses: painéis de poliuretano em sandwich tipo “ERFI”, com isolamento térmico incorporado, revestidos pelo interior com painéis tipo DURIPANEL e pelo exterior em painéis de madeira de pinho nórdico e, pontualmente, em chapas de aço corten. Esta opção permite olhar o edifício como um diamante/monólito, perfeitamente integrado na paisagem.

Em relação aos duches e vestiários, optou-se por marcar uma transição, não só em relação ao revestimento exterior, mas à própria comunicação com o edifício. Tem um acesso independente, pelo exterior, de forma a que seja possível fazer o percurso “vestiário/tomar banho/vestiário, sem interferir com a zona de informação e exposição. É uma área resguardada, com um pátio de distribuição para instalações sanitárias e para a zona de duches e vestiários, que comporta uma zona de descanso.

O edifício funciona como um percurso, na sucessão total dos espaços: entrada, informação, exposição, cafetaria e gift shop e auditório. É um espaço minimalista, sem qualquer acessório, apenas com pequenas estruturas (denominadas de móveis) que funcionam como esculturas e que englobam a zona reservada da cafetaria e a área da gift shop. Deste modo, e num espaço relativamente reduzido, foi possível criar zonas distintas que podem funcionar autonomamente ou integradas num roteiro completo de quem visita o local:

Zona de informação/exposição: 38.80m2

Zona de auditório: 13.20m2

Zona de arrumos: 2.10m2

Instalações sanitárias: 8.00m2

Cafetaria: 17.68m2

Zona de vendas – gift shop: 6.85m2

Vestiários/duches: 4.30m2

Zona circulação exterior: 19.43m2

O resultado é um projeto pensado de raiz de forma a articular as questões funcionais de hoje, de apoio aos visitantes, mas também um projeto completo, com aspirações futuras…afinal é este o trabalho do arquiteto.