O ponto de partida para a construção deste dueto foi a exploração da ideia de espera. Olho para a espera como uma encruzilhada, um lugar a um tempo deserto e familiar, ermo mas pleno de potencialidade. Neste sentido, a espera é encarada como a possibilidade do novo, uma distensão do tempo que subitamente é quebrado pelo ultrapassar do impasse. No trabalho procurei alinhar esta ideia com a noção de alter-ego, a possibilidade de dualidade e de confronto interno nos momentos de espera, de isolamento e de criação. Assim os dois intérpretes existem sempre como desdobramentos do mesmo ego, dois corpos que se perseguem e ignoram mutuamente, como uma imagem que o cérebro se esforça por focar mas que permanece indeterminada. No espaço, um quarto caótico onde jazem peças de roupa espalhadas, os movimentos invocam essa procura, paciente e passiva, ansiosa e insistente. Aborrecidos de morte, deixam então que a passagem do tempo, diluído, rarefeito, despolete o acidente.